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Entrevista | Reitor da Unochapecó crê em reformulação para avanço das condições da educação no Brasil

Por: Marcos Schettini
20/08/2020 17:03 - Atualizado em 20/08/2020 17:04
Reprodução/Facebook

Conhecedor da realidade da educação em Santa Catarina e no Brasil, o reitor da Universidade Comunitária da Região de Chapecó, Claudio Jacoski, tem observado com muita atenção a dura realidade vivida pelo setor nos últimos anos, principalmente neste momento de pandemia.

Com os centros educacionais fechados, a internet se tornou uma poderosa arma de aprendizagem, transformando a realidade entre o professor e o aluno, agora conectados pelas salas online. Enfrentando esse e demais desafios, Jacoski concedeu uma entrevista exclusiva ao jornalista Marcos Schettini e falou das constantes mudanças realizadas pela Unochapecó.

O reitor de uma das maiores universidades do Estado também comentou sobre o desuso do vestibular, considerou o sistema de cotas como “alternativa equivocada”, abordou os debates da escola sem partido e reiterou a importância da Acafe. Confira:


Marcos Schettini: O vestibular não é um mecanismo de escolha que prejudica o acesso à universidade?

Claudio Jacoski: O vestibular é um instrumento que cada vez mais cai em desuso, uma vez que os últimos governos do Brasil, optaram por dar um caráter comercial e de mercado para a Educação, ao invés de torná-la um investimento e usá-la como estratégica para o desenvolvimento do país. Poucos cursos possuem concorrência para acesso à Educação Superior. Mesmo nas instituições públicas o vestibular já foi substituído pelo Sisu (Sistema de Seleção Unificada). Na Acafe, o vestibular foi substituído pelo SUA (Sistema Unificado da Acafe).


Schettini: Aquela forma de acesso oferecido e o Sisu é ineficiente?

Jacoski: Na verdade o Sisu faz a seleção a partir das notas do Enem, e não apresenta ser ineficiente, pois classifica aqueles que melhor nota tiveram durante a realização do ensino médio.

Schettini: O sistema de cotas raciais é justo ou não?

Jacoski: O sistema de cotas raciais foi uma alternativa equivocada para dar acesso a grupos raciais. O mais coerente seria o Estado brasileiro oferecer o acesso a todos os brasileiros no ensino básico e prepará-los para acessarem o Ensino Superior de forma equânime. Foi uma saída paliativa, que já deveria avançar. Como política pública, já há elementos suficientes para uma análise e uma reformulação para avanço das condições da educação no país.


Schettini: O professor não deveria ter o melhor salário do país justamente por criar capacitados?

Jacoski: Parece ser algo bastante lógico, o docente ser melhor remunerado. O problema é que o modelo em funcionamento no país leva a difíceis condições dos docentes, principalmente do ensino básico, mas também do Ensino Superior. É um problema conjuntural, que somente com uma reforma do modelo existente poderá avançar.


Schettini: O que a pandemia fragilizou na Educação como um todo?

Jacoski: A pandemia trouxe muitas dificuldades para a Educação. Pode-se citar que a questão financeira para os estudantes e para as instituições é algo que terá um grande impacto e que será melhor visto em 2021. Também é possível apontar dificuldades de condições para tomada de decisões mais assertivas, mais científicas, que não tiveram tempo de ser desenvolvidas. Isso realmente ficou claro, a importância da ciência e da tecnologia para o país, que se encontra extremamente frágil neste sentido. Porém, também tivemos avanços. Por exemplo, pode-se citar o trabalho diferenciado realizado pelas instituições comunitárias, que não pararam suas atividades, utilizando-se de ferramentas remotas, concluíram o primeiro semestre e seguem dando exemplo para o país que ainda tem instituições que sequer iniciaram as atividades neste período. Estas mudanças irão causar no futuro, significativas mudanças em nossos processos de ensino e aprendizagem, não tenho nenhuma dúvida disso.

Schettini: Quais são as soluções futuras para capacitar a juventude depois que se formar?

Jacoski: A Educação continuada é uma realidade de nossa época. Atualmente, a formação profissional evolui com o passar do tempo e a formação segue a mesma lógica, portanto, seguir na senda do conhecimento é uma necessidade dos dias atuais. Mais e mais veremos o uso de ferramentas tecnológicas para promover este tipo de formação. A Unochapecó, por exemplo, tem uma ferramenta para este fim, chamada Unoplus (unoplus.com.br), que permite que as pessoas atualizem-se em diversos temas de seus interesses.


Schettini: Os professores precisam de qual cenário para exercer a profissão com resultados?

Jacoski: Os professores necessitam de um cenário de possibilidades e expectativas futuras. Todo professor sonha em contribuir com a sociedade, porém em alguns casos faltam estímulos para que ele possa ser mais competitivo e apresentar melhores resultados. O cenário da docência não é nem um pouco animador no país (falando-se em Ensino Básico), basta ver a ausência de interesse de jovens buscarem seu espaço nas licenciaturas.


Schettini: A Acafe não é uma entidade muito distante da sociedade?

Jacoski: A Acafe é uma Associação das Fundações Educacionais, e embora não faça mídia de suas atuações, tem feito um importantíssimo papel político de busca de conquistas para o setor. Atualmente, a Acafe conquistou um espaço nunca antes ocupado, junto a estruturas organizacionais da Educação Superior do país e junto a classe política. Não há quem não reconheça o papel de representação e de enfrentamento político realizado pela Acafe.

Schettini: O ensino a distância é um crime contra o conhecimento?

Jacoski: Da forma que o país optou, quem sabe sim. Temos hoje um ensino a distância questionável a preços de venda inacreditáveis, que tornam impossível um resultado de aprendizado satisfatório. Porém, não podemos culpar o ensino a distância, pois ele certamente se incorporará ao presencial (ainda mais com o advento da pandemia). A Unochapecó, por exemplo, acredita muito no EaD e oferece um ensino de qualidade nesta modalidade. O problema é que há instituições apenas com interesse de retorno financeiro, há inclusive grandes corporações vendendo EaD com capital estrangeiro, gerenciando a educação oferecida no país, o que é questionável. Nenhum país sério deixaria a soberania nacional tão vulnerável. A educação precisa ser rediscutida no todo ou teremos no futuro uma geração incapaz.


Schettini: A escola sem partido é possível ou é outra ideologia da ultradireita?

Jacoski: A escola sem partido é possível em países em que a sociedade já evoluiu. Infelizmente, ainda temos situações em que a formação é confundida com a ideologização, isso define bem a condição em que estamos e que nosso país ainda precisa dar muitos passos para ser uma nação no contexto da palavra. Por outro lado, a escola é o principal local para discussões e disputa de ideias, mas sempre com liberdade.


Schettini: Quais são os desafios da Unochapecó para produzir profissionais competentes?

Jacoski: Os desafios da Unochapecó são muitos. Cada vez mais temos dificuldades criadas por legislação, pelo mercado, por movimentos internos da própria instituição, que concorrem com o trabalho de formar profissionais competentes. Mesmo assim, é com muito orgulho que a Unochapecó continua sendo uma instituição com nota máxima no MEC (faz parte de um seleto grupo de 5% de instituições do país), e tem o reconhecimento de mais de 38.000 profissionais qualificados no mercado.


Rumos da Unochapecó são traçados pelo reitor Claudio Jacoski, vice-reitora Silvana Muraro Wildner e pró-reitores José Alexandre de Toni, Andrea de Almeida Leite Marocco e Marcio da Paixão Rodrigues (Foto: Unochapecó)

Schettini: O Sr. tem interesse na vida pública?

Jacoski: Na verdade ser reitor de uma instituição comunitária é atuar na vida pública, pois com muito orgulho estou à frente de um dos mais importantes instrumentos públicos de desenvolvimento da nossa região. Este cargo, de uma organização com mais de 700 funcionários, com uma complexidade legal (como é a área da educação), de mercado e de gestão, dá todas as condições para uma atuação em vários tipos de instituições, inclusive na área pública.


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